sexta-feira, 15 de junho de 2007

Não troque de canal

Estamos diante de uma dinastia? Esta foi a final mais chata dos últimos tempos? LeBron é um enganador? Tim Duncan é o maior ala-pivô da história? Prometo revisitar todos esses temas ainda na sexta-feira, com muito mais bate-papo sobre a final. Abraços, e até daqui a pouco.

JOGO 4 - A NBA se tinge de preto e prata



O San Antonio Spurs já tinha vencido finais por 4-3, 4-2 e 4-1.

Faltava a famosa varrida. E ela veio justamente para sacramentar o time do Texas como o melhor da última década na NBA.

A exemplo do que aconteceu ao longo da série, nem foi preciso jogar tão bem para superar o Cleveland Cavaliers. A vitória por 83-82 na casa do adversário garantiu o quarto título da turma de preto-e-prata, graças às flechadas de Tony Parker, aos rebotes de Tim Duncan e ao poder de decisão de Manu Ginóbili. Como sempre, o trio de ferro.

Eleito MVP das finais com absoluta justiça, Parker voltou a passear à vontade no garrafão dos Cavs. Anotou 24 pontos e ainda pegou sete rebotes. Enrolado numa bandeira da França após a partida, o armador era um dos mais felizes com a conquista do campeonato. Com mais um anel no dedo, ele agora trata de arrumar espaço na mão para receber a aliança do casamento com a atriz americana Eva Longoria.

Duncan se deu ao luxo de ter uma noite irregular. Acertou apenas quatro de seus 15 arremessos, terminou com 12 pontos e cometeu seis erros, mas compensou com 15 rebotes e uma boa atuação no último quarto.

A reta final da partida, aliás, foi o território do guerreiro Ginóbili. O argentino foi o cestinha da noite com 27 pontos, sendo 13 no quarto período, e também festejou com a bandeira de seu país.

LeBron James despejou números decentes na quinta-feira, com 24 pontos, 10 assistências e seis rebotes, mas a estatística é enganosa. O craque acertou apenas 10 de 30 arremessos, cometeu meia dúzia de erros e não conseguiu ter controle do jogo em nenhum momento.

O número de passes decisivos de LeBron poderia ter sido maior se os companheiros de time tivessem a mira calibrada - o Cleveland teve aproveitamento de 38% nos arremessos. Após a sirene final, James deixou a quadra rapidamente e sequer falou com Duncan.

Na sala de entrevistas, a frase do pivô ao pé do ouvido do ala foi escutada pelos repórteres: "Em breve, esta liga será sua", profetizou Tim.

Em breve, pode até ser.

Por enquanto, esta é a liga do San Antonio Spurs.

O time da década

Parabéns ao San Antonio Spurs, campeão de 2007 e time mais consistente da NBA nos últimos tempos. Daqui a pouco e volto com a crônica do jogo 4 e os detalhes do desfecho da final.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

A lógica Spurs

Por Fábio Balassiano

Por essas coincidências do basquete, de 1991 para cá, a cada três anos o primeiro colocado do draft participa das finais da NBA. O problema é o seguinte: se não jogou nos Spurs, ficou com o vice...

Primeiro na seleção de 1991, Larry Johnson perdeu a final do campeonato reduzido contra o San Antonio em 99. O de 94, Glenn Robinson, levou o caneco na sombra de Duncan, o mais bem escolhido três anos mais tarde, em 2005. O sortudo de 2000 foi Kenyon Martin, pelos Nets, surrado na final de 2003 contra o mesmo time texano.

Será que LeBron James reverte esta louca-lógica? E será que o italiano Andrea Bargnani, de 2006, conseguirá aparecer em alguma final? Pelo visto, que ele torça contra o San Antonio...

Afinal de contas, quem é o MVP das finais?



Diante do cenário, é inevitável antecipar a discussão.

E, cá entre nós, só temos três candidatos:

Tony Parker, Tim Duncan e LeBron James (no caso de uma virada do Cleveland, o que só aconteceria com atuações heróicas do camisa 23).

Traduzindo: só temos dois candidatos, certo?

Pelos três primeiros jogos, o mais justo seria dar o prêmio ao francês. Se Duncan levar o troféu, tudo bem, mas vai se repetir a história de 2005, quando Ginóbili merecia ganhar e não ganhou. Parker foi, sem dúvida, a punhalada mais dolorosa para o Cleveland até agora.

Por outro lado, Duncan é o melhor jogador dos playoffs. Se a votação para MVP fosse feita agora, e não no fim da fase regular, o prêmio certamente iria para ele. Aos 31 anos, fez um campeonato brilhante.

Três pontos

(1) Na manhã de quinta-feira, nasceu Bryce Maximus, segundo filho de LeBron James. Papai não vai querer ser varrido na estréia do garoto, né.

(2) A audiência da final continua em queda livre. Do jogo 2 para o 3, houve uma redução de 30% no número de telespectadores.

(3) Ou seja, menos gente acompanhou ao vivo o segundo menor placar da história das finais. Só ganha de Fort Wayne 74-71 Syracuse, em 1955.

Último pedido


Leio no blog do NBA.com: dos últimos cinco times que abriram 3-0 na final, apenas um perdeu o jogo 4 - o Chicago Bulls, que aliás também perdeu o 5 para o Seattle em 1996. Os outros quatro (Sixers 1983, Pistons 1989, Rockets 1995 e Lakers 2002) varreram.

Será que o San Antonio engrossa a fila hoje? Na verdade, pouco importa.

Na prática, a série já está decidida, tanto faz se o Cleveland vencer pelo orgulho ou se for despachado diante da própria torcida. Eu só quero uma coisa:

Um jogo realmente bom nesta quinta.

Quero ver o que ainda não vi: os dois times jogando em alto nível ao mesmo tempo, acertando na defesa e no ataque e nos brindando com um espetáculo digno de uma decisão. Seria ótimo, mesmo na despedida, que este monólogo em preto-e-prata se transformasse num duelo de verdade.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Qual destes dois tem o time nas mãos?



Nas entrevistas logo após o jogo 3, duas declarações ilustram bem como Gregg Popovich tem muito mais controle sobre os jogadores do San Antonio Spurs do que Mike Brown com a garotada de Cleveland.

Indagado sobre o péssimo aproveitamento nos chutes de três (3-19), Brown fez cara de conformado e disse que cansou de pedir, em vão, que a turma fizesse mais infiltrações e menos arremessos de fora.

Pouco antes, Tony Parker, em tom bem humorado, desculpava-se por ter feito três disparos de longa distância. O francês admitiu que, ao ver uma das bolas caindo, respirou aliviado e chegou a brincar tom Tim Duncan.
Se tivesse errado, confidenciou, levaria uma bronca do treinador.

Três pontos

(1) Nos últimos 17 anos, só duas finais terminaram em 4-0: Lakers-Nets em 2002, Rockets-Magic em 1995. Shaq, aliás, estava em ambas.

(2) A série entre Spurs e Cavs pode estar chata, mas, cá entre nós, tem sido assim há muito tempo. Desde o embate entre Bulls e Jazz em 1998, qual foi a grande final da NBA? A rigor, na minha opinião, apenas uma empolgou de verdade: a de 2005, entre San Antonio e Detroit, disputada em alto nível e decidida no último quarto do sétimo jogo.

(3) Desde que Jordan abandonou o Chicago, foram oito finais, e o Oeste venceu meia dúzia (a vantagem agora deve aumentar para 7-2). Tudo bem que, nos últimos três anos, foram dois títulos do Leste e uma vitória apertada do San Antonio, mas a diferença de qualidade entre as conferências é cada vez mais abissal. Com Oden e Durant indo para o Oeste, sabe-se lá quando esse jogo vai virar.

JOGO 3 - Choque de realidade em Cleveland


O Cleveland Cavaliers teve o apoio da torcida, um quase-triplo-duplo de LeBron James, colaboração efetiva dos coadjuvantes e, de quebra, uma atuação decepcionante do San Antonio Spurs. Nem assim conseguiu ganhar.

E o castigo foi implacável.

Com a derrota por 75-72 na terça-feira, o time de Ohio passa a precisar de um milagre sem precedentes para conquistar o título da NBA.

Melhor para a turma do Texas, que nem jogou tão bem, abriu 3-0 na final e ficou a um passo de levantar o caneco pela quarta vez.

Na terceira partida da série, Tony Parker foi bem marcado e terminou com 17 pontos. Tim Duncan sofreu com a defesa de Anderson Varejão e não passou dos 14. Manu Ginóbili errou os sete chutes que tentou e cedeu sua vaga no trio de ferro a Bruce Bowen, que fez 13 pontos e apanhou nove rebotes. Mesmo sem repetir a eficiência dos primeiro jogos, o San Antonio tratou de cumprir a missão e agora pode fechar o confronto na quinta-feira.

Como sempre, o Cleveland defendeu bem, e ainda contou com os rebotes de Gooden e Ilgauskas - boas surpresas. Mas pecou feio no índice de arremessos. Foram 29 de 79, incluindo 3-19 da linha de três.

O calouro Daniel Gibson, que iniciou a partida no lugar do lesionado Larry Hughes, foi a grande decepção da noite, com dois míseros pontos e uma cesta convertida em 10 tentadas. Ele e LeBron, por sinal, dividiram igualmente 10 tiros tortos de longa distância.

James terminou com 25 pontos, oito rebotes e sete assistências, mas cometeu cinco erros e acertou apenas nove de 23 arremessos.

Varejão fez um trabalho perfeito em cima de Duncan no quarto período, mas comprometeu sua atuação ao não devolver uma bola passada por LeBron nos segundos finais (falo mais sobre isso no texto abaixo).

No fim das contas, o craque dos Cavs teve a chance de empatar com um chute de três. Não conseguiu. No início da jogada, ele sofreu falta de Bowen, mas os árbitros fizeram questão de ignorar (pode descer a página, que tem mais sobre esse assunto).

Resumo: o golpe fatal foi dado. Agora só falta desligar os aparelhos.

Defesa brilhante, lambança marcante


Anderson foi um leão ao defender Duncan nesta terça-feira. Contra Ilgauskas ou Gooden, o ala do San Antonio invariavelmente partia para dentro. Contra Varejão, não. Sempre optava pelo passe no perímetro. Se o Cleveland tivesse vencido, o brasileiro teria sido um dos heróis da noite.

Mas o Cleveland perdeu.

E ele teve sua parcela de culpa.

Tudo por causa de uma decisão absolutamente equivocada no ataque. A 24 segundos do fim, o Cleveland perdia por dois pontos. LeBron tentou driblar Bowen, não conseguiu, passou para Anderson e se livrou de Bowen para receber de novo. Em vez de devolver a bola, o brasileiro partiu feito um louco para cima de Duncan, fez um giro até bonito, mas finalizou com uma bandeja sem equilíbrio.

Erro grave.

Nada disso anula o esforço defensivo ao longo dos playoffs, mas deixa claro que ele ainda precisa aprender a tomar decisões. Sem pânico ou julgamentos precipitados. Aos 24 anos, Vareja só tem a evoluir.

Anote aí o nome dos árbitros

Bernie Fryer, Dan Crawford e Bob Delaney. Agora vamos aos erros:

O GRAVE - Três pontos atrás no placar, o Cleveland deu a última bola a LeBron James. Quando tentou o drible para armar o chute de três, o craque sofreu uma falta claríssima de Bowen. O ala do San Antonio tinha intenção de mandar o rival à linha de lances livres, permitindo no máximo dois pontos. Os juízes fingiram que não viram (principalmente Delaney).

O PATÉTICO - No início da partida, LeBron sofreu uma falta flagrante. Deveria bater os dois lances livres e manter a posse de bola. Mas quem arremessou foi Daniel Gibson, como se fosse uma falta técnica (na qual o time pode escolher o cobrador). Só então os árbitros se tocaram, anularam os pontos de Gibson e mandaram LeBron à linha fatal. Constrangedor.

terça-feira, 12 de junho de 2007

Radar dos craques para o jogo 3

Se não for hoje, não vai ser mais. LeBron precisa jogar tudo que sabe e mais um pouco. Vamos, portanto, às previsões:

LEBRON JAMES
35 pontos, 11 rebotes

TIM DUNCAN
19 pontos, 12 rebotes

O efeito Spurs

Por Fábio Balassiano

O New York Times publicou ontem excelente reportagem mostrando a influência do sucesso do San Antonio Spurs na liga. Citou a chegada do Cleveland à final, dirigido por Mike Brown (técnico) à beira da quadra e Danny Ferry (gerente geral) no escritório. O primeiro foi assistente de Gregg Popovich, e o segundo, jogador da franquia.

O Phoenix, precavido por duas eliminações contra o time texano, contratou Steve Kerr, presente nos dois primeiros títulos da franquia Spurs (1999 e 2003). O Seattle trouxe Sam Presti, auxiliar do diretor R.C. Buford, para ser gerente. Para a mesma função, o Portland pegou Kevin Pitchard, ex-scout do San Antonio que já esteve no Brasil procurando por jogadores.

Resta saber se o modelo de sucesso dos Spurs terá o mesmo efeito sem o principal ingrediente do time três (quatro?) vezes campeão: Tim Duncan.